Senhora Dona Maria França
Nasceu em Torres Vedras em 14 de Maio de 1880, na freguesia de S. Pedro e Santiago da Villa, filha do Dr. Ignácio França (n. S. Salvador do Mundo do Sobral de Monte Agraço), médico-cirurgião, e de Dona Maria Philomena Corrêa França (nascida a 30 de Outubro de 1842 na freguesia da Encarnação de Lisboa) (casados em 27 de Setembro de 1875, na freguesia de S. Christóvão, em Lisboa e à data moradores na Rua da Olaria, hoje Rua Paiva de Andrade, em Torres Vedras), neta paterna de José Cristóvão França (Sobral de Monte Agraço) e de Dona Maria de Jesus Dias França e materna de João Thomaz Seroulo e de Dona Maria Rosa Seroulo.
Dona Maria França foi membro do Corpo Expedicionário Português, do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Herbelles, França.
Prestou serviço de Novembro de 1917 a Julho de 1918 na qualidade de Dama-Enfermeira, cargo equiparado a Alferes.
Quando embarcou, a 17 de Novembro de 1917, o seu estado civil era de solteira, a mãe já havia falecido, e residia com o seu pai em Lisboa, na Rua Andrade Corvo, nº 133. O seu irmão, Dr. Carlos França, residia em Colares, Sintra.
Regressou de França em 27 de Julho de 1919, por via terrestre, e terá falecido em data posterior a essa.
Dona Maria França serviu 648 dias, e foi a Dama Enfermeira que serviu mais tempo.
Foi agraciada com a medalha da Ordem de Cristo em 10 de Julho de 1920.
De acordo com a sua ficha do CEP, que segue em anexo:
1917, Novembro . Apresentada ao Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em 23.
1918, Julho - Abatida à Cruz Vermelha Portuguesa, em 26.
Colocada no G.A. de Enfermeiras, mandada prestar serviço no Hospital de Sangue 8, em 27.
O Hospital de Sangue 8 localizava-se em Herbelles.
(Isto quer dizer que Dona Maria França, e algumas outras senhoras enfermeiras, acharam muito limitado o seu cargo e solicitaram um papel mais activo, sendo inseridas no CEP, com o cargo de Alferes. Para a época, esta atitude foi considerada algo rebelde, além de ser um pouco mal vista por pessoas de visões mais limitadas. Era como se as mulheres pedissem para votar ou usar calças!)
1919, Março - Louvada pela sua abnegação e cuidados aos doentes, em 20.
1919, Maio - Louvada pelo seu desempenho exemplar na missão, 27.
“A 27 de Maio de 1919 através da ordem n.º 141 (51) do C.E.P. e sob proposta do Chefe do Serviço de Saúde, foram louvados os chefes, oficiais e praças, em serviço no Hospital de Sangue n.º 8, desde a sua instalação na zona avançada, pela boa vontade, competência, zelo e dedicação que manifestaram no cumprimento da sua missão, contribuindo pelo seu dedicado esforço para uma eficaz assistência a feridos e doentes, apesar das dificuldades materiais, com que, por vezes,tiveram de lutar. Neste mesmo louvor é feita especial referência às Damas-Enfermeiras Sr.ª D.ª Eugénia Manuel; Sr.ª D.ª Maria França; Sr.ª D.ª Ângela Botto Machado; Sr.ª D.ª Mariada Conceição Botelho; Sr.ª D.ª Angélica Plantier; Sr.ª D.ª Gladys Cannell; Sr.ª D.ª Maria Câmara Leme; Sr.ª D.ª Evelyn Rangel e Sr.ª D.ª Alda Calheiros Viegas, porque no desempenho da sua missão, em meio muito diferente daquele em que viviam, demonstraram sempre a par das mais excelentes qualidades de carácter a maior dedicação pelos doentes, a que prestaram com zelo e carinho a mais cuidadosa assistência, com muita competência profissional e rara abnegação”.
Conta tempo de serviço em campanha desde 17 de Novembro de 1917 até 24 de Julho de 1919.
Do seu registo disciplinar nada consta.
Quanto à medalha, percebi, pelas referências, que ela tinha sido homenageada, juntamente com outras senhoras, uma das fotos que envio, pelo que fui pesquisar na página seguinte:
FRANÇA Maria
CRISTO
Cv/Dm
1920/07/10
Envio em anexo a sua certidão de baptismo, a sua ficha no CEP e algumas fotografias disponíveis na net. Este álbum de fotografias foi elaborado pela Senhora Dona Maria Conceição Botelho, que seria a única a ter máquina fotográfica, e é o único registo de que se tem conhecimento. Está nos Arquivos da CVP, pelo que creio que será necessário contactar com eles para se poder reproduzir as fotografias.
As certidões estão disponíveis nos registos da Torre do Tombo online, qualquer pessoa pode aceder.
Podem ver também em
E fiquei por aqui.
Já pesquisei algumas hipóteses, mas ainda não encontrei mais informação para dar seguimento.
Não consegui ainda descobrir em que data faleceu nem em que local. É possível que tenha voltado à casa paterna, aquando do seu regresso em 1919.
Não sei se casou, se teve descendência, se regressou a Lisboa, a Torres Vedras ou a casa de família no Sobral de Monte Agraço.
Não encontrei qualquer registo posterior, na sua certidão de baptismo não consta qualquer averbamento, nem matrimónio, nem óbito.
Procurei em páginas de genealogia e fóruns, sem resposta.
Estou a aguardar resposta da parte do grupo de investigação do CEP no facebook e da Cruz Vermelha Portuguesa, para o caso de ainda terem a sua ficha de registo ou o seu cartão de identificação da CVP.
Acerca do Dr Carlos fiz pesquisa até Colares, falei com o Sr Rui Santos da Junta de Freguesia, muito disponível, que me informou que já quase não há descendência da família Mazziotti ou França, nem há conhecimento de que Dona Maria tenha ido residir para casa do irmão. Para esse efeito, contactei uma senhora que foi casada com o único descendente do Dr. Carlos França, que confirmou não haver conhecimento acerca da sua irmã. Desconheço se há mais irmãos de Dona Maria e do Dr Carlos.
Contactei os Cemitérios dos Prazeres e do Alto de S. João, em Lisboa, mas não foi encontrado qualquer registo. Em Torres Vedras também não há registo de Dona Maria no cemitério local.
Em Torres Vedras, contactei ainda com o Professor Paulo Gonçalves, da Escola Secundária Henriques Nogueira, com quem comparei informação, e o Arquivo Municipal, mas não conseguimos mais informação além desta.
De qualquer forma, não dei por terminada a minha pesquisa, e espero encontrar respostas, eventualmente.
Apenas um aparte: No registo de nascimento de ambos (Carlos e Maria) vem que a morada de residência era na Rua da Olaria, em Torres Vedras, actualmente, Rua Paiva de Andrade, e penso que seria uma bonita homenagem colocar uma placa a indicar onde nasceram. Não tendo o número, não sei qual será o edifício, apenas que foi nessa rua.
Acho apenas que havia de ser homenageada de alguma forma ou, pelo menos, que não fosse esquecida, pois protagonizou um acto de grande coragem, para uma senhora da época que, como sabemos, poucas oportunidades tinha de mostrar o seu valor.
Perfeito, perfeito, seria ser feita alguma referência a Dona Maria França numa das publicações do Município, pelo menos.
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